Dois escritores do tipo pseudo-intelectuais anos 60 divagam sobre a existência:

– O cara faz uma viagem, escreve em folhas sem fim, vira mito e tudo o que vem depois é referência pós geração beat. Definiu a cultura, mas era pra tanto?
– On the Road não é sobre uma viagem, cara. É sobre o descobrimento da América profunda, é a redescoberta depois de Colombo. A atualização da história, reciclagem, contracultura, a busca da felicidade pelo fascínio da estrada em contraposição a tudo o que deu errado no sistema capitalista.
– Pode até ser, mas pelo visto não adiantou muita coisa porque no final o sistema venceu, não tem mais jazz, a estrada esburacou, Marylou se internou na clínica e o Dean, o Dean está morto.
– Todos nós estamos. So não sabemos. Dead men walking. Isso é o que a gente é.
– A juventude fajuta se vendeu.
– Careteou. Nós inclusive.
– Mataram os herois e deixamos por isso mesmo.
– Hoje o projeto de vida virou estudar pra driblar a concorrência e trabalhar pra ganhar a vida. A galera busca projetos solos e individuais. Além da vida linear com buscas esparsas pela felicidade da geração Y, que é uma ilusão.
– A geração Y é uma ilusão?
– Todo conceito que coloca um emblema em algo tão grande e heterogêneo é engana-trouxa por definição.
– A geração beat também?
– Aí é diferente.
– Por quê?
– Porque eles modernizaram o pensamento da época.
– Será mesmo?
– O lance é que a moçada hoje pelo menos curte viajar.
– Viagens programadas com roteiros pré montados da internet. Sem arte, sem inspiração, sem a liberdade inconsequente dos que não têm amanhã.
– Sal Paradise tinha amanhã.
– O Dean, não.
– Dean está morto.
– Sal também.
– E a gente, geração Y? O que a gente faz?
– Procura a arte, a liberdade e a inspiração onde ainda dá.
– Onde?
– Com Sal Paradise e Dean Moriarty.
– Vou reler “On the Road”.
– Vai lá.

4 de novembro de 2014