No café da tarde, entre xícaras de café, pães de forma com atum e pedaços de um bolo de cenoura quase acabando, ele viu, pela primeira vez em muitos anos, os olhos da velha senhora brilharem novamente. Foi um instante que ninguém mais na mesa percebeu. Por uma fração que deve ter durado talvez menos de um segundo, os olhos opacos da velha senhora, consumidos vagarosamente pela dor da luta contra um câncer sem fim, deram lugar a um brilho vívido, poderoso, mais azul do que o mais lindo dos oceanos.
Naquele momento, ele poderia dizer com certeza, que alguma coisa havia passado pela mente da senhora, uma memória de um tempo em que a morte não era uma sombra e em que a vida era o caminho do arco-íris que escondia, em algum lugar em sua extensão, o pote de ouro cheio de riquezas, conquistas e sonhos.
O pensamento voou, passou e foi embora. Até nunca mais.