Em um mundo caótico, deslizante, improvável, neurótico, perigoso, psicótico, nossos corpos e nossas mentes anseiam por um caminho. Algum caminho.
É a velha cadeia dos contrários. Segurar e soltar. Ir e ficar. Gritar e calar. Omitir e contar. Entre o som e com o silêncio, há uma ciência. Que é arte. E que ensina que a vida, essa sucessão de acontecimentos aparentemente sem fundamento, é possível de ser organizada. Como a música, que é caos organizado em notas de melodia.
Ou como a Psique e a Análise. A mente que se olha. O olhar que se analisa e que se entende, mesmo na correria. Que se vê como fragmento dos muitos indivíduos que habitam cada um de nós. A gente não é um só. A gente é uma galera.
Entre opostos que se afetam, que se encontram, que se vibram, há algo que a gente — toda a gente — pode fazer.
No caldo da vida dura, difícil, desorganizada, triste e sofrida, existe… Vida. Espaços de atuação. A gente pode. Nem tudo é mal-estar. Nem tudo precisa ser mal. Pode ser estar.
O que pega é que só procuramos ajuda quando o cristal se quebra. E aí, quando nos vemos em pedacinhos, aqueles cristais que não se esmigalham no poço da seca têm uma nova chance: podem voltar a se formar. Afinal, toda casa uma hora precisa de re-forma.
Só que isso exige trabalho. E o que não exige? Viver é trabalho. Respirar dá trabalho. Alimentar-se dá trabalho. Amar dá muito trabalho. Trabalhar dá trabalho. O despertar dói. Mas também fascina.
Por isso que é vento e que é brisa. É contínuo e descontínua. É terapia. E poesia.
Se estamos vivos é porque ainda há muito o que fazer.