O seu sorriso, o seu sorriso é triste. Tá entristecido. A boca contorna a alegria. Mas os olhos não… Eles não se mexem. Não sorriem junto. Ficam assim, opacos, revelando o que você tanto quer ou precisa esconder.
Alguém me falou que te conheceu. Que te conheceu pela primeira vez. Não importa quem. Não importa quem me disse que você parecia uma pessoa angustiada. Eu te conheci. Sei que você não era angustiada. Ao menos não mais do que a maioria de nós, angustiados inveterados. Mas aí eu vi o seu sorriso. E me dei conta dos anos. Os anos, dá pra compreender, os anos destroçam a intimidade. Eu já não te conheço mais. E muito menos o seu novo sorrir.
Então desculpa. Eu não tenho o direito. Não sirvo pra falar de sorrisos. Nem de angústias. Muito menos de você. Mas é que outro dia eu cruzei com uma pessoa por aí. E ela tinha o seu jeito. De sorrir sem sorrir. Mas eu tenho certeza que ela sorria-sorria. Mesmo. Como você fazia quando alguém contava piadas de te fazer gargalhar.
O seu sorriso triste então esquecia a tristeza. E seus olhos finalmente voltavam a ter o brilho do dia em que eu te conheci. O dia em que você vivia voando.