Cada um de nós tem um lado. Já parou pra pensar? Eu sim. Penso nisso toda vez. Sempre que eu olho pra uma pessoa, qualquer pessoa, eu acabo me detendo em um lado do rosto dela ou dele. Durante muito tempo eu achei que isso fosse balela, coisa da imaginação. Mas todas as vezes em que eu tomava consciência disso no meio de uma conversa ou qualquer coisa, eu estava olhando para o mesmo lado: o esquerdo. O foco no olhar esquerdo, o jeito de sorrir da bochecha esquerda, o leve tocar da mão na face esquerda. Sei lá.
Mas aí eu conheci você e, por uma atração estranha e natural, passei a focar no seu olho direito. Foi assim desde a primeira vez. Seu lado direito é seu lado mais magnético. Não consigo explicar, mas é dali que parece vir sua energia. E desde então eu prefiro sentar sempre no lugar de onde eu consiga olhar melhor pro seu lado direito.
Claro, só comecei a pensar nisso muito tempo depois. E esse pensamento veio junto de tantos outros… É que eu eu acredito que cada pessoa com quem a gente se relaciona nesse mundo de meu Deus ativa um lado da nossa personalidade. Você me ativa um lado do não-conforto. Não sei explicar, mas é como se, do seu lado, eu sempre estivesse sendo desafiado a ser extrovertido, a encontrar uma coisa intrigante pra dizer, a buscar uma curiosidade nova sobre os fatos da semana, a ser um tipo viajante cheio de ideias, energia e empolgação. A não ter lugar-comum, a mostrar idealismo, confiança e uma vontade imensa de expandir os horizontes. Os meus, os seus e os da humanidade toda. Não que isso tudo não seja eu. Até é. Mas é uma partezinha de um eu enorme que eu não conheço na totalidade. Você valoriza esse meu lado.
Mas tem outra coisa. Como não é um lado simples, é preciso que a gente não se veja sempre. O cotidiano banaliza as relações. O cotidiano abre cracks inconciliáveis na natureza das pessoas. O cotidiano sufoca porque a repetência sem sentido faz as coisas com sentido perderem logo o sentido. Faz sentido?
E também porque leva um tempo até esse meu eu se energizar novamente. E algo me diz que sem esse eu você não é você. Ao menos nessa nossa relação. Ao menos nessa relação que nós dois estabelecemos. Porque talvez, de algum modo, eu também ative alguma parte da sua personalidade que não é totalmente você, mas que, ainda assim, é uma parte de você mesma.
Tudo isso pra dizer que com o passar do tempo eu consegui olhar também para seu lado esquerdo. E não me importei mais em pensar em qual lado da mesa sentar porque todos os nossos lados são importantes afinal.
Eu gosto dos seus dois lados – e também de todos os outros. Eu gosto da parte sua que me faz ser eu. E da parte minha que te faz ser você. Entende? Era isso o que eu tinha pra dizer.