Às vezes eu olho o e-mail dela. Sempre de noite. De madrugada. Quando o mundo está em silêncio e uma parte de mim está berrando. Foi a única coisa que eu guardei. Um e-mail. Se fosse alguns anos atrás, não seria e-mail, seria carta. E guardar uma carta significa mais do que guardar um e-mail. Mas isso não importa. O que importa é as três linhas que ela escreveu e a foto que ela mandou em anexo. Era uma imagem bem iluminada, tirada num parque com uma árvore de fundo. Foto simples, mas que capturou um vislumbre da alegria do mundo quando ele era alegre. O rosto magnético atraía olhares de homens, mulheres e de uma plateia inteira. Com ela, magnetismo e energia também se estampavam no sorriso, um sorriso de quem sabe, mesmo sem saber, que vai viver pra sempre.

É essa vivacidade que pega. Ela tem o rosto de quem é eterna na alma. Ela era dessas pessoas pela vida também. Um potencial de pura extroversão. Uma estrela prestes a explodir de luz. Ela vivia cada segundo no momento em que ele estava passando, um dom raro que não se vê muito por aí. Não importava se ela estivesse brava ou alegre, se fosse um instante bom ou ruim, ela vivia a dor, a angústia e a alegria como se a vida fosse um enorme palco. E não é?

E como ela viveu, essa menina. Viveu pouco na contagem dos anos, mas com um tesão tão grande e tão intenso que a maioria das pessoas, mesmo as que chegam aos 100, raramente têm.

Hoje é uma tristeza contrastar o olhar de alegria daquela foto, as linhas daquele e-mail, com o fim que a peça escolheu pra ela. Mas é só ver aquele sorriso brilhante que a tristeza se vai. Até isso você conseguiu fazer, mesmo sem querer. Espantar a tristeza da Terra é um dom dos anjos. Tudo podia ser silêncio. Mas, pra você, é aplauso eterno.