Depois de muitos anos, o primeiro toque em outra pessoa, ele é áspero; o primeiro beijo, é estranho; o primeiro sexo, invasivo. A mente se rende a uma propulsão de intimidades que desenovelam memórias. O corpo não se adapta assim porque o tempo é o tempo que leva. Tudo é novo e pior, lento e supérfluo, burocrático e sem graça. As aventuras mais insanas parecem textos de teatro falados por atores ególatras sem Stanislavski.
Você olha no espelho, no teto, na cortina. Não tem público nem espetáculo. Não tem ninguém. Você é a única testemunha de um monólogo silencioso que só existe dentro do olhar. Não tem texto nem subtexto, nem ator e nem dramaturgo. Só tem personagens perdidos querendo, sem querer, encontrar uma versão nova e própria de Sísifo.
Então os fins deslembram os começos e a solidão que se esperava estancar grita mais forte e mais escura, renovada. Sair da roda do tempo traz a incômoda sensação da instabilidade da volta. A suavidade do vento nunca é de graça. Dure o tempo que for, como qualquer outra habilidade de magia, ela também tem seu preço.