É o mesmo olhar de sempre. Levemente levantados, os olhos parecem tremer quando a luz encontra as lágrimas que teimam em se segurar. As sobrancelhas se arqueiam e a linguagem corporal grita toda a tristeza do mundo.
É hora de partir. Pela milésima vez, ela sente o mesmo incômodo, a mesma e velha dor que se aproxima em uma velocidade alucinada e devastadora. Os olhos não piscam por vários segundos até que o ônibus finalmente sai.
Ela ainda acena um tchau, tentando se convencer de que é forte, madura, mulher crescida. Tenta provar a si mesma que aprendeu a dominar a dor da despedida. E então vê seus olhos entristecidos seguir o ônibus até a curva.
Mas é só o ônibus sair de vista para as lágrimas teimosas escaparem de vez, agora sem nada que as reprima. Ninguém está vendo, ele já se foi, pode chorar quanto quiser, você precisa – ela diz para si.
Só então, mais uma vez, ela consegue reelaborar a máxima que criou anos atrás na esperança inútil de conseguir consolar a dor da partida: o mais difícil em uma viagem não é viajar, o mais difícil é ficar.