As promessas do prefeito

Na época da eleição, o candidato aprendeu bem a regra de ouro da campanha eleitoral: fazer promessas como se o mundo fosse acabar amanhã.
O homem seguiu a cartilha à risca, a exemplo de seus antecessores, verdadeiros senhores feudais em Terra Brasilis.

– Eu prometo trazer o Cristo Redentor para essa cidade em três meses!
– Ooooh, diziam os futuros eleitores, embasbacados.

– Eu prometo trazer o Papa para acender a luz que vai iluminar nossa cidade lá de cima do morro mais alto!
– Ooooh, respondiam os católicos fervorosos.

– Eu prometo criar a mais bela das rodovias, que vai passar no meio da mata e chegar até a praia!
– Ooooh, pasmavam os turistas.

– E prometo também fazer dessa cidade a Miami brasileira!
– Ooooh, admiravam-se os donos de construtoras.

– Além disso, vou distribuir leite de graça nas creches!
– Ooooh, diziam os pais, mães, professores e professoras.

– E pão, o senhor vai distribuir também? – quis saber a diretora da escola.
– Claro. Havia esquecido de dizer. Está em nosso plano de governo. E se não está eu mando incluir. Leite e Pães para as creches. É obra nossa. É tudo nosso!

Palmas entusiasmadas a R$50 o evento.

– Por fim, um outro pedido. Votem em mim. E também na minha mãe. Ela será vereadora e, juntos, mãe e filho farão um governo forte e inesquecível.
E assim o candidato ganhava as mães, avós e as solteironas da cidade.

Com aceitação geral, ele foi eleito com maioria de votos.
Ao sentar-se na maior cadeira da prefeitura, porém, ele se esqueceu de todas as promessas e mandou o povo às favas.
Abriu uma construtora, comprou um canal de televisão e passou a maior parte do tempo com a grande família – inclusive a mãe eleita – em hotéis construídos estrategicamente no meio da Mata Atlântica.

Em uma festa de vereadores, o prefeito foi o primeiro a inaugurar o bar e o primeiro a se deliciar com a farinha apreendida das investigações policiais.
Às três da madrugada, o homem ficou em um estado de tamanha falta de lucidez (“Farinha bendita, farinha bendita”, não parava de gritar) que de tão fora de si tomou a decisão que ninguém esperava:

– Eu vou cumprir minhas promessas de campanha.

Dito e feito. Em pouco tempo, os turistas conseguiam trafegar até a praia em uma estrada que cortava a mata, as crianças passaram a receber pão e leite como merenda diária e uma réplica do Cristo Redentor foi criada no alto do morro. Inclusive, reza a lenda que o próprio Papa tenha abençoado o monumento por videoconferência e o Cristo passou a iluminar a cidade 24 horas por dia.

Depois de prefeito, o homem foi eleito deputado federal. Em seguida, virou governador e foi presidente do partido. Quarto anos depois, foi Senador da República, quando finalmente a Polícia Federal o prendeu por sonegar o imposto de renda.

Dizem que na prisão ele continuava com a mania de fazer promessas a torto e a direito, barganhando melhores condições “para nós, os companheiros enjaulados pelo sistema perverso das elites do nosso país”. Os colegas de cela concordavam e vez ou outra agraciavam o antigo prefeito com uma farinha bendita para ver se surtia algum efeito.

21 de outubro de 2012

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s