Depois de sete anos ao lado de seu valoroso namorado, ela não tinha dúvidas: ele era o homem certo para a vida certa. Planos não faltavam: noivado, casamento, filhos, casa própria, vida tranquila, emprego estável, recursos financeiros e viagens pra perto do mar.
Aí ela recebeu o diploma da pós das mãos de sua professora preferida e, por algum motivo, achou que era hora de ir embora. Refletiu, com a ajuda da mãe, eterna conselheira, a possibilidade de ir morar fora do país por um ano, período que poderia ser esticado para mais anos a depender das circunstâncias.
E como afinal a vida é cheia de circunstâncias, muitas delas bem longe do alcance de nossos próprios planos racionais, ela escolheu seu caminho. E agora só restava a ele a decisão: ir com ela para o mundo além-mar ou ficar e esperar.
Só que ao rapaz não foi dada muita opção. Ela viveria no exterior na casa da tia velha. Os dois não teriam condições de alugar a própria casa em um lugar onde a moeda valia três vezes mais. E ele não poderia ficar na casa da tia velha, pudica por natureza, uma senhora de modos e costumes da Europa da Idade Média. E mais, ele tinha coisas reservadas por aqui, promessas de trabalho difíceis de jogar fora assim livremente, ainda mais considerando o grande sacrifício que foi para conquistá-las. Ele tinha que ficar.
Como eles se amavam de verdade, a certeza da separação foi causando uma dor intensa. E permanente. Ambos foram se destruindo pouco a pouco no decorrer do processo. Ele, por não acreditar nas juras de amor depois da experiência exterior. Ela, por não ter plena certeza de nada do que iria acontecer em seguida.
A corrida pelo visto, as propostas de emprego fora do país, o fazer das malas e a despedida dos familiares lhe tomaram todo o tempo que tinha pra pensar. Por fim, ela ponderou que as possibilidades de ganho eram maiores do que as certezas das perdas.
De uma hora para outra, ele viu o avião rasgar as nuvens e desaparecer no céu acinzentado. Nesse instante, lembrou-se de um montão de coisas que deveria ter falado, perguntas não respondidas, declarações que gostaria de ter deixado mais claras para a única pessoa que realmente importava.
Com ela, a ficha só foi cair quando estava a mais de dez mil metros de altura. Antes disso, seu mecanismo de defesa foi involuntariamente ativado para não questionar jamais a decisão de ir e deixar seu amor esperando (ou fazendo o que quer que ele quisesse fazer). Ela o amava. Amava muito. Mas desligou a chave do coração para enfrentar o futuro que se avizinhava. Agora estava sozinha. Sozinha e longe do Brasil.
Ela ganhou o norte e ele perdeu o sul.
Lá na terra, ele ficou quase um minuto olhando para o nada até que alguém esbarrou em seu ombro e lhe tirou do torpor da ausência. Se ir embora é difícil, mais difícil é ficar. Ficar e esperar.
Foi assim. O amor vaporizou na dor das lembranças. O que vai acontecer em seguida, ninguém pode dizer. Continuamos meros espectadores de um velho jogo chamado sorte, revés e incerteza.
27 de agosto de 2012